28 de junho de 2012

Nostalgia....

Em primeiro lugar desejo saúde e felicidade... Assim começava todos os textos das cartas que escrevia. Como muitos sabem criei-me em um sitio, onde a cidade mais próxima era a quilômetros de distancia, muitas pessoas da região não sabiam ler e muito menos escrever e minha avó além de parteira, curandeira, também escrevia cartas, foi ela que me ensinou a escrever e ler, quando fui para a escola estava bem adiantada dos meus colegas. Depois de um tempo comecei a escrever cartas e fazia mais as postava também. Adorava fazer isso, mais tarde aprendi que deveria escrever da mesma forma que as pessoas falavam, para a carta ficar mais autentica e tinha uma senhora que começava a carta como citei acima. Ela sempre escrevia para os filhos e eles nunca deixaram de responder. Ela perguntava por todos os filhos " como vai o Zé, a Maria, o Pedro, o Raimundo, a Sebastiana, tem visto o João, o Chico" e por ai se estendia a carta, era a maior de todos os outros e conforme ia escrevendo ela chorava, parávamos um pouco para ela pensar se faltava algum assunto e por fim se despedia: Aqui me despeço esperando que chegue logo as notiças, de sua mãe Romilda.

Ali todos se conheciam, sabiam os nomes e de que família era, claro que existia todos os tipos de pessoas, como o senhor da vendinha que todos juravam ser um lobisomem, tínhamos a fofoqueira da vila, a santinha, a assanhada, o ladrão de galinha, a viúva que se casou diversas vezes e sempre ficava viúva, o fazendeiro malvado e o bonzinho. Para ir a escola caminhávamos muito até chegar lá, as vezes pegávamos carona na carroça que passasse ou carro de boi, quando era no carro de boi chegávamos quase surdos, porque ele ficara fazendo um barulho como se estivesse gritando pedindo socorro. Não tínhamos cola ou bolsa, levávamos os cadernos em sacos e a cola era feita de trigo ou araruta, não lembro ao certo, só lembro do cheio de azedo que tinha meus cadernos, brincávamos de tudo e não tínhamos nada eletrônico. Quando chegávamos em casa vovó queria saber como foi, olhava os cadernos, perguntava se nos comportamos e se viesse alguma reclamação da escola ajoelhávamos em algum grão disponível no momento, meu castigo era o sótão, morria de medo em ficar lá, na verdade nem era o sótão em si e sim a parte que subia até lá que era muito escuro e deixava-me aterrorizada. Não era tolerado uma desobediência com o professor, para os pais e avós o professor era sagrado, o idolatravam e qualquer coisa que acontecesse, nós nunca tínhamos razão, jamais. Na verdade não eram a nossos pais que tínhamos vergonha de decepcionar e sim ao nosso mestre. Eu amava minha primeira professora, Miriam era o nome dela, não era muito boazinha, mas tinha um jeito de ensinar que me encantava. Os alunos brigavam muito e sempre eram chamados por apelidos, o meu era "pau de virar tripa" por ser muito magrinha e também apelidava quem me aborrecesse, se brigávamos ia na mesma hora para a diretoria e só saia de lá acompanhada pelo responsável, todos evitavam ir até lá, parecia a coisa mais perigosa do mundo para nós alunos.


Os adultos respeitavam as crianças, os padres eram respeitados e confiávamos neles e todos se cuidavam.


Que coisa chata disse minha filha, sem televisão, luz elétrica e tantas outras tecnologias como hoje que tudo é mais fácil, tudo facilitado, mercados, shopping, veículos silenciosos que soltam fumaça e tantas outras coisas maravilhosas que facilitam tanto a vida do ser humano.


E morro de saudades daquele tempo, tudo tão difícil, mas a felicidade e paz que lá existiam não tinham preço.