30 de junho de 2012

"Pior do que ser cego dos olhos é ser cego do espírito."


Não sei ao certo o que acontece com as pessoas que quando vê uma pessoa com alguma deficiência automaticamente tem pena ou medo, Pena por ver a pessoa tão incapaz, olha como que a vida da pessoa acabasse ali e medo em chegar perto e acabar falando o que não deve, por não saber lidar com a situação. Eu talves também agiria desta forma se não tivesse conhecido uma pessoa que ensinou-me desde pequena a força que uma pessoa com deficiência tem, tinha oito anos quando uma tia minha começou a namorar um deficiente visual. Depois de um tempo de namoro ela resolveu apresentar seu "lindo namorado" como ela mesma dizia. E minha pessoa era terrível, sabe aquelas crianças que não sabia ficar com a boca fechada por mais que minha avó implorasse, era mais forte do que eu e minha curiosidade aflorava naquela época e falava tudo que me incomodava ou assustava. No dia marcado vejo entrando em nossa casa um rapaz muito lindo mesmo e com uma bengala enorme a qual ele em um toque dobrava ela em varias partes a deixando bem pequenina, fiquei impressionada, alem de cego era magico pensei na hora, mas o fato é que foi em voz alta. Claro que todos ficaram constrangido e ele deu uma risada, claro que adorei ele desde o começo, ficava fitando todos os seus movimentos, com talheres, copos e tudo o mais, ele é muito inteligente. Ele nos contou que quando perdeu sua visão ele tinha treze anos e que havia mais três irmão com a mesma deficiência ao nascerem que foi constatado, para ele foi mais difícil a aceitação pois ele já vira o mundo e conhecia todas as cores, entrou em depressão por este fato e que logo se recuperou com a ajuda e amor da família. Eles moravam em Curitiba e mais tarde com a morte de meu avô, vendemos o sitio e fomos morar para lá também. Comecei a ter mais contato com ele e logo me levou ao instituto onde ele e os irmãos estudaram quando meninos. Instituto Paranaense de Cegos era o nome do local e lá conhecia varias pessoas, vi que existiam muitos cegos no mundo e fiquei admirada com o local. Conheci a maquina de Braille e meu tio mostrou-me como era usada e também a ler com os olhos fechados, claro que nunca consegui era muito difícil, mas eles conseguiam por ter o desejo de poder ler e sentir as palavras.






Sabiam que o sistema Braille que é utilizado universalmente por pessoas cegas e que foi inventado por um francês cego, Louis Braille. Não recordo de toda a historio deste inventor, mas é fácil nas pequisas pela internet com certeza vão encontrar.







Bom estou aqui para falar de pessoas que fazem a diferença neste mundo e por hoje tentar ler o rotulo de um produto que comprei e não ter conseguido enxergar a letras miúdas da embalagem por ter esquecido meus óculos de grau em casa, sim minha visão não é das melhores e não faz muito tempo que fui a um oculista e consegui minha segunda visão, não o uso como deveria e hoje foi a gota d'água, passarei a usá-lo com mais frequência. Não percebemos estes defeitinhos que nosso corpo apresenta, já não dá para fazer as mesmas coisas que fazíamos quando mais jovens, não que me sinta uma velha, mas percebo as mudanças. E hoje lembrei-me de meu tio que já esta mais velho e com o mesmo humor de sempre, não mudou nada. Ele nunca se prendeu por nada, sempre lavava suas roupas, as passava, cozinhava, hoje já não precisa mais pois esta muito bem de vida e tem uma pessoa que faça isso por ele, mas cheira sua roupas e sabe dizer se foi bem enxaguada, ela é muito exigente, usa bem seu olfato para saber se a casa esta cheirosa ou não. Pelo paladar sabe dizer o que foi colocado de tempero na comida, pelo toque sabe dizer se a gente esta feliz ou triste e escuta muito bem por mais baixo que a gente fale. Ele é um super tio e muito brincalhão. Quando jovem eles confeccionavam bolças e outros produtos no instituto e saia vender pelas portas, depois foi trabalhar em uma empresa e mais tarde aposentou-se e ainda sim fazia uns bicos, ele andava sozinho por toda a cidade e nos fins de semana íamos passear, eu, ele, minha tia e avó.

Quando já estava adolescente buscava os irmãos dele no instituto para passear, vinhamos fazendo uma verdadeira bagunça no ônibus, eles eram um pouco mais velhos que eu. As vezes até esquecia que eles eram deficientes. A irmã dele mais tarde foi trabalhar na prefeitura como telefonista, outro abriu uma empresa de congelados e o mais novo deles virou um folgado que vivia da sombra dos irmãos, uma vez vi ele na televisão sentado em uma cadeira participando de uma manifestação de sem terras, quase morri de rir, ele usava a cegueira para ganhar terras. Não se preocupem ele apanhou uma surra de seu pai e pegou jeito, até hoje tiramos uma casquinha dele nas brincadeiras.

Meu tio foi um exemplo paterno para minha pessoa e um exemplo de que deficiência não é doença, com um grande esforço e determinação consegue-se viver com dignidade.

Não o tratava como um invalido fazendo tudo por ele, até quando andávamos na rua ele nunca gostou que ficássemos o avisando das barreiras, as conhecia pelo toque de sua bengala e as horas ele usava seu relógio com números braille que estava sempre no horário certo. Ele é uma pessoa muito feliz, eles nunca tiveram filhos. Ele é um anjo, daqueles que Deus põe no caminho da gente.

Então meu povo quando virem uma pessoa com deficiência, seja qual for não os olhem com pena e sim com admiração e se na sua família tiver uma especial como tenho na minha, se sinta privilegiado pois tens um anjo em sua casa.

Marcelo Elias/Gazeta do Povo / Instituto de Cegos: organização tem dívida de R$ 450 mil, segundo interventor

Frase preferida de meu tio Aleixo Carvalho

"Pior do que ser cego dos olhos é ser cego do espírito."

Claudiney Ribeiro