18 de julho de 2012

UMA HISTORIA DE AMOR

Quando tinha dez anos de idade escutei uma historia de amor tão linda que vale a pena ser registrada aqui neste espaço tão acolhido por todos com carinho e respeito.





A muito tempo atrás havia uma senhora que varria sua calçada e estava lembrando de sua vida de menina tão sofrida, vivera em uma época em que a mulher obedecia muito a seus pais e estes diziam que queriam o melhor para ela. Não tivera tempo de brincar de boneca e muito menos de viver um grande amor, pois sua vida já havia sido planejada, iria casar-se com um moço de uma família muito rica e conhecida da região, este era seu destino. Casou-se com quatorze anos com alguem que lhe era totalmente estranho, nem sequer escutara o som de sua voz. Já casada apenas trocará de dono, agora devia respeito ao seu marido, nunca havia demonstrado nenhum tipo de afeição, sempre carrancudo e mal humorado, aos poucos foi se conformando com o comportamento do marido e deixará de sonhar com o amor perfeito. Tivera o primeiro filho e foi de extrema alegria, pois conseguira dar um filho varão para seu marido e naquela época era muito importante que o primeiro filho fosse homem. Pensava que este fato deixaria o marido de melhor humor, mas nada, era o mesmo troglodita de sempre. Logo vieram os outros filhos que ao todo de sua vida com ele eram treze filhos. Não se assustem naquela época era assim mesmo as mulheres serviam somente para procriar e cuidar da casa, ela tinha varios sonhos e estudar seria um deles, porem não lhe foi permitido, estudar só os homens podiam, mas nunca o quiseram como ela.




Viveu sua vida amargurada por dentro e só o que lhe importava eram seus filhos, seus tesouros. O tempo passou e ela começou a ser surrada pelo marido, ele chegava tarde, cheirando perfumes desconhecidos e muito bêbado, havia arrumado uma amante e ela aguenta firme tudo pelos filhos.




Uma noite enquanto ela o esperava já cansada do labor do dia e nada dele chegar, ela adormeceu e quando o dia estava amanhecendo veio a noticia que seu marido estava morto, cairá do cavalo e quebrara o pescoço, estava muito bêbado quando o viram pela ultima vez. No momento o susto foi grande e aos poucos ela foi assimilando os acontecimentos. Uma alegria tomou conta de seu coração estava liberta do seu demônio pessoal, mas não demonstrava nada aos que estavam a sua volta e os filhos nenhum soltou uma lagrima, pois amor por aquele pai não existia e por tanto não havia uma real tristeza naquela casa e sim uma sensação de alivio. Depois do velório ela decidiu tomar conta dela e de seus filhos já que não tinha mais dono. Seu pai quis intervir e dizendo que ela estava louca e por fim se calou, não tinha mais poder sobre ela. Resolveu ir embora daquele lugar e realmente foi levando todos os seus filhos, a herança era razoável e daria para ela fazer o que havia planejado. Chegando em outra cidade abriu um restaurante e seus filhos já crescidos a ajudavam e por anos viveram entre altos e baixos conseguiam sobreviver, mas não era nada fácil para ela os gastos eram grandes e estava quase desistindo.




Um dia entrou um senhor em seu restaurante e pediu o prato do dia, ele ficou lhe observando o tempo todo, pagou a conta e foi embora, deixando a senhora intrigada, sentiu uma vontade imensa por saber mais daquele homem com um olhar tão penetrante. Depois disso três vezes por semana ele aparecia e fazia a mesma coisa e depois ia embora. Ela ficava ansiosa pela sua chegada e assim se repetiu por alguns messes.




Muito tempo se passou e ela nem conhecia o som de sua voz e só o que sabia é que ele era um maquinista de trem que não tinha família e vivia só. Sim ele tinha uma família o que ninguém sabia que ele era indígena e que moravam muito longe, ele resolvera sair de sua tribo e tentar a sorte na cidade grande, tinha grandes planos em se tornar muito rico. Sentia falta de uma companheira e se apaixonara perdidamente pela aquela senhora tão educada e trabalhadeira, mas no momento não tinha nada para oferecer nem a ela e muito menos aos filhos que eram muitos, ele se acovardou no momento que soube da quantidade de crianças que ela tinha, claro que alguns já eram moços fortes que trabalhavam sem parar ao lado da mãe. Neste conflito de sentimentos o amor falou mais alto e se enchendo de coragem foi falar com ela. Seu jeito não era dos mais educado e sem voltas ele lhe falou direto. Chegou até a senhora e lhe falou o quanto a apreciava e que gostaria muito de lhe propor casamento, só havia um empecilho, ele havia se aposentado da ferrovia e iria a uma cidade bem distante para comprar umas terras, desbrava-las, construir uma cabana e depois ele viria buscá-la, ela lhe respondeu que ficava muito lisonjeada com o pedido e sua preocupação seria os filhos que jamais abandonaria. Ele a amou ainda mais, lhe disse que havia pensado nisso por messes e que jamais a queria sem os filhos. Pediu que ela lhe esperasse por um ano, que neste tempo ele viria buscar a todos, ela aceitou um pouco desconfiada, mas o que teria a perder e seu amor aumentou ainda mais quando ele incluiu seus filhos na vida dele. E assim ele partiu com os olhos marejados com a tristeza que não poderia mais vê-la por um ano.




E a vida para aquela senhora continuou, em seus pensamentos só eram para aquele senhor e a saudade apertava ainda mais a cada dia, um aperto em seu coração em pensar que poderia nunca mais saber daquele senhor já tão amado por ela.




Se passou o ano, a mes e o dia de seu retorno, então ela começou a duvidar e seus conhecidos a colocar mais duvidas em seu coração, logo ela já nem esperava mais seu coração estava em pedaços.




E lá estava ela como em todos os dias varrendo sua calçada e pensando em seu amor que se foi e nunca mais voltou. Foi quando ela levantou seu rosto e olhou alem da calçada e vi uma sombra caminhando em sua direção, estava muito longe impossível conhecer de imediato e logo ela reconheceu e viu seu grande amor com um saco nas costas, andando devagar, seu rosto mais magro e queimado pelo sol, muitos arranhões pelo braço e seu corpo cansado e exausto, dois messes depois do prometido ele voltou. Ficou imóvel sem acreditar no que via, ao chegar ele disse que era para ela o perdoar por não cumprir em chegar no dia marcado, porem estava ali para leva-los se ela concordasse em segui-lo. Ela pulou em seu pescoço e o beijou todos os arranhões de seu rosto e disse que iria arrumar suas coisas. E se foram sem olhar para atras, ele prometeu que cuidaria muito bem dela e os filhos os criariam como se fossem dele.




Ele cumpriu tudo que havia prometido, as crianças estudaram, alguns se formaram e foram tentar a sorte, alem dos treze filhos tiveram mais quatro e foram muito felizes. Todos os dias ele colhia uma flor e a acordava com ela, este era o seu ritual e ela quando ele chegava da roça lavava todos os dias seus pés em sua gamela. Ele havia comprado muitas terras, desbravou com a ajuda de um amigo e as transformou em um sitio mais lindo do mundo, comprou gado, cavalos, criavam todos os tipos de aves, o leite era fresco todos os dias, começou a plantar fumo e ganhou muito com isso.




Ele deu uma vida de rainha para aquela senhora e com certeza viveram felizes para sempre.




Esta historia era a minha preferida, deixava minha avó doida para contá-la, desejava e pedia a mesma qualidade de amor que aquele casal.








Esta linda historia de amor é real é como meus avós se conheceram, sim eles tinham dezessete filhos e foram muito felizes, meu avô era indígena com um conhecimento fora do normal, ele tinha um grande respeito a terra e com os animais. Lembro-me de seu conselho depois de minha avó me dar umas chineladas, ele escondido dela me disse: "Ayré nunca corra assuma suas falhas", pois eu sempre fugia e deixava ela mais brava ainda.

Sempre penso que ele amava muito ela para aceitar seus treze filhos, poucos fariam isso. Todos o chamam de pai e respeitam até hoje sua memoria, como eles mesmos dizem que além de pai foi um grande herói, lhes deu amor. Preencheu uma lacuna que faltava na vida daquelas crianças. Tive o prazer de ser criada por eles, meu avô faleceu quando eu tinha dez anos, mas mesmo neste espaço curto de tempo ao seu lado, foram os melhores da minha vida.